Um pouco inspirados pelo Abécédaire de Michel Sasseville (Abécédaire de la Philosophie pour Enfants), propusémos aos dois grupos, convidados pela Biblioteca Municipal de Torres Vedras, a elaboração de um abecedário que respondesse a:
1. O que é a biblioteca?
2. O que é a escola?
O primeiro grupo, de 3º e 4º anos, deslocou-se à Biblioteca Municipal, alguns alunos estavam ali pela primeira vez, outros costumavam ir com a mãe e outros já tinham ido a outras bibliotecas. «- Na escola da Conquinha havia uma biblioteca e eu ia lá.» (M.)
Perpassando por perguntas sobre se costumam vir à biblioteca, porque vêm à biblioteca, se pagam para lá ir, se pensam ser importante a biblioteca ser grátis, etc, duas ideias fortes surgiram a partir de « - Os adultos não precisam de ler livros.» (S.) Depois de explicitadas concordâncias e discordâncias em relação a esta tese as suas razões («já sabem ler», «já sabem ler bem», «já aprenderam muitas coisas», «a minha mãe lê porque gosta») chegámos a um ponto da discussão muito interessante. « - É importante ler, mesmo em adulto para saber a verdade das coisas.» (B.)
De facto, ao longo de toda a história, temos - e ainda bem - as bibliotecas como locais de conhecimento, os livros dizem-nos as coisas como elas são.
Mas... Será que há livros que nos enganam?, questionámos.
E eis, em nosso entender, um dos pontos altos desta sessão de Filosofia para Crianças, na voz da L. e da M.:
L « - Pode haver um livro que tem um título na capa e lá dentro tem coisas falsas.»
M « - E pode haver um livro que se chama livro dos enganos e lá dentro tem enganos.»
E, acrescentamos nós, há livros que nos contam histórias imaginadas, que não aconteceram mesmo: contêm falsidades?
A professora S. prometeu explorar com a turma estas relações entre ficção, falsidade e o paradoxo que existe num livro que diz conter enganos e, de facto, contém.
E nós aguardamos ansiosamente as ideias que advirão desta discussão!
O segundo grupo recebeu a nossa visita na sua própria sala de aula e à proposta A escola é... chegaram palavras como aprender, divertir, TPC. E foi precisamente o TPC que abriu a porta a um dos pontos fortes da sessão:
O TPC serve para treinarmos, para conseguirmos fazer melhor, para estudarmos, para tirarmos dúvidas.
Ao responder como faziam para tirar dúvidas e se as dúvidas eram boas, a M. partilhou que gostava «(...) de ter dúvidas porque assim descobria as coisas.» e, além disso, recolheu uma forte adesão da turma - se já soubéssemos tudo não tinha piada nenhuma, não precisávamos de aprender, e aprender, recuperando duas ideias iniciais, é divertido.
Outro dos pontos que podemos salientar desta sessão é a criatividade empenhada na realização do abecedário, quando a cada aluno calha uma letra «muito difícil»: «- Professora, não há nada com H, eu só sei holofote, hospital, Henrique.»
Bem, a S. acabou por encontrar um H de hoje, porque acha a escola tão fixe que tem de ser já hoje!
Ficam abaixo algumas palavras que compuseram o abecedário para «O que é a biblioteca?» e «O que é escola?»