O que para um ocupa o primeiro plano e revela com clareza todos os detalhes, para outro ocupa o último plano e permanece obscuro e encoberto. Além disso, como as coisas postas umas atrás das outras se ocultam no todo ou em parte, cada um deles aperceber-se-á de pedaços de paisagem que ao outro não chegam. Teria sentido que cada um declarasse falsa a paisagem alheia? Evidentemente que não: tão real é uma como outra. Mas também não faria sentido que, tendo chegado a acordo, e como as suas paisagens não coincidem, as considerassem ilusórias. Isto levaria a supor que existe uma terceira paisagem autêntica que não está sujeita às mesmas condições das outras duas. Ora bem, essa paisagem arquétipo não existe nem pode existir. A realidade cósmica é tal que só pode ser vista em perspectiva. (…) O que acontece com a visão física, acontece com todo o resto. Todo o conhecimento o é sob um determinado ponto de vista. (…)
Cada vida é um ponto de vista sobre o Universo. Em rigor, o que ela vê, outro não o pode ver. Cada indivíduo – pessoa, povo, época – é um órgão insubstituível para a conquista da verdade. Eis como esta que, em si mesma é alheia às variações históricas, adquire uma dimensão vital. Sem se desenvolver, a mudança perpétua e a inesgotável aventura que constituem a vida, o Universo, a omnímoda verdade, continuaria ignorada.
O erro inveterado consistia em supor que a realidade teria em si mesma, e independentemente do ponto de vista que se tiver sobre ela, uma fisionomia própria. Claro que, pensando assim, toda a visão a partir de um ponto determinado não coincidiria com ela e portanto seria falsa. Mas o caso é que a realidade, tal como a paisagem, tem infinitas perspectivas, todas elas igualmente verídicas e autênticas. A única perspectiva falsa é a que pretende ser única.
Ortega y Gasset, El Tema de Nuestro Tiempo