Por que quero saber de onde venho e para onde vou, de onde vem e para onde vai tudo o que me rodeia, e que significa tudo isto? Por que quero saber se morrerei ou não definitivamente e por que desejo eu que a morte não seja um fim absoluto? Se não morro, que será de mim? Se morro, já nada tem sentido. E há três soluções:
a) Sei que a morte é absoluta e então o desespero é irremediável;
ou b) sei que a morte não é absoluta e então há a resignação;
ou c) não posso saber nem uma nem outra coisa e então há a resignação no desespero ou este naquela, uma resignação desesperada, ou um desespero resignado, e a luta. (…)
Fiquemo-nos agora nesta veemente suspeita de que a ânsia de não morrer, o desejo da imortalidade pessoal, o empenho com que tendemos a persistir indefinidamente no nosso ser próprio e que é, segundo o trágico judeu, a nossa essência própria, isto é, a base afectiva de todo o conhecer e o ponto íntimo de partida pessoal de toda a Filosofia humana.
E veremos como a solução para este problema afectivo, solução que pode ser a renúncia desesperada de solucioná-lo, é a que tem todo o resto da Filosofia. (…) E este ponto de partida pessoal e afectivo de toda a Filosofia e de toda a religião é o sentimento trágico da vida.