A ver por algumas caras de esforço e até por algumas batotas, manter os olhos fechados durante algum tempo, não é algo fácil. Mas não impossível! Esta foi precisamente a 1ª regra deste exercício de Filosofia para Crianças, que começou por escultura e terminou em afinação de conceitos e descoberta da sua dimensão existencial quotidiana.
A sessão foi passando e as esculturas, mais ou menos finas, mais ou menos minimalistas foram surgindo a partir de um bloco de barro.
O Miguel produziu aquilo que aos olhos da Zimba era uma planta, mas que aos seus fazia lembrar água.
A Laura um boneco de neve, fazendo-lhe lembrar frio, que ao Igor fez lembrar guerra.
A Zimba um extraterrestre que o Pedro nomeou de orelhudo.
E o Pedro um Buda que lhe trouxe o termo felicidade mas que Luís aproximou da ideia de calma, «por causa da cara que tinha.»
(Aproveitei para perguntar ao Luís se ele é calmo. Numa resposta pronta, de quem muito bem sabe acerca de si: «- Às vezes.» - Em que vezes é que és calmo? «- Quando estou a ver desenhos animados e quando estou a dormir. Mas quando estou no parque ou no jardim... eishssss ando sempre sempre a correr de um lado para o outro!!»)
Infelizmente, o fotógrafo distraído da nossa sessão não captou a peça do Luís, um bloco de barro, bastante unitário, com uma boca abeeerta e olhos esbugalhados! A mesma instalou a divergência entre o termo confusão (observação do autor) e tristeza (observação da espectadora mais jovem do grupo). Aquela por causa dos olhos e esta por causa da boca. Hummm: o grupo imediatamente reconheceu que aquela não era boca de tristeza, seria mais algo como :( ...
Foi uma sessão em que espectador e autor tiveram, em geral, interpretações totalmente distintas da mesma obra, justificadas por olharem para elementos diversos da mesma.
Fomo-nos dirigindo para a afinação do conceito de sentimento por via dos exemplos que surgiam.
Será que a palavra extraterrestre ou orelhudo podem traduzir sentimentos? O Pedro avança afirmativamente: «sim, quando dizemos que nos sentimos extraterrestres queremos dizer que nos sentimos fora do habitual.»
- Se bem que orelhudo... "Sinto-me tão orelhudo, hoje!", provoco.
«-Fica um pouco estranho, mas acho que também pode ser. A pessoa sente que tem as orelhas grandes.»
Esta foi a sessão final de um ciclo de Filosofia para Crianças a partir de quatro artes: a Música, o Desenho, a Literatura e a Escultura. Resta-nos agradecer a todos os participantes pelo seu empenho, aos seus pais, que mais ou menos assiduamente nos visitaram também e, obviamente à Biblioteca Municipal de Silves por ter tomado esta iniciativa.
Estamos sempre ao dispor numa cidade que tão bem nos recebeu!
Laurinda Silva