A Cadela do Calatrava
«A praia de Faro é parte da
grande península que faz fronteira com a Ria Formosa, um ilhéu que está ligado
ao continente por uma pequena ponte de madeira.
Pois bem, correr e brincar na
praia era o passatempo preferido de uma cadela, conhecida por ser a cadela do
Calatrava. O Calatrava era um pescador que, como tantos outros na ilha, fazia
do mar a sua profissão e o seu sustento.
Em alturas de trabalho mais
aturado, quando as barcas, bateiras e caíques se aprontavam para o mar, quando os
cabos, as redes, as boias e as armações ocupavam os seus lugares ou se
remendavam por causa do uso fustigador da água salgada, a cadela do Calatrava
ADORAVA ainda mais a praia. Adorava fazer parte daquele corrupio todo! Pulava,
saltava, corria por todo o areal sem parar um segundo!
O Calatrava não tinha outra
alternativa: tinha de lhe pôr uma coleira. Era a única maneira de os pescadores
trabalharem à vontade.
E era sempre assim! Para
trabalhar o Calatrava colocava a coleira no pescoço da cadela sem a prender a
nada, apenas a coleira no pescoço.
A cadela do Calatrava não saía
mais do sítio. Latia, latia, latia. Latia, latia, latia, mas não saía do sítio.» L.S.
A história da cadela do Calatrava inspirou a sessão de hoje!
«- Porque é que a cadela não saía do sítio?» (Diogo B.)
Várias sugestões de resposta a esta pergunta surgiram: «Porque gosta de estar com a coleira, e se ficar irrequieta, o dono tira-lha.» (Daniel) ou «Porque sente respeito pelo dono e sabe que deve ficar ali.» (Diogo) ou ainda «Porque se sente presa, apesar de não estar.» (Catarina)
Mas será que há diferenças entre ser/estar preso e sentir-se preso? Ou entre ser livre e sentir-se livre?
Sim, inequivocamente sim!
«Sentir-se é uma mentira; ser é a verdade!» (Daniel)
«Sentir-se é a verdade; ser é a mentira:» (Diogo)
Hummm.... E agora?...
O Daniel explica: - a cadela sentia-se presa mas na verdade não estava!
E o Diogo também explica: - se nós pensamos que estamos presos, não fazemos coisas. Ou fazemos coisas de uma maneira.
(...)
Mas será que nós, humanos, também temos destas coleiras que nos prendem sem prender?
Avançaram-se inúmeros exemplos que confirmam que sim:
- a sala de aula (Daniel);
- a prisão (se bem que é um pouco diferente: da sala de aula podemos - conseguimos - sair, mas não o fazemos porque sabemos que não devemos, mas na prisão não é assim tão fácil conseguir sair...);
- Casa;
- Deveres, com os pais, por exemplo (Catarina e Bruna);
- Castigos;
- Trabalho;
- Emprego;
«- O meu pai está desempregado.»
Também podemos estar presos ao desemprego?
«- Sim.»
- Desemprego;
- Dor (Diogo B.);
- Vício («- Fumar, por exemplo.», Adonai ou «- Jogar computador.» Daniel)
«- É quando tu gostas tanto que não deixas de jogar.» (Adonai)
Afinal, parece que é mesmo muito possível gostar de estar preso! ?...
Grata a todos pela sessão e parabéns pela qualidade das intervenções!
(4º D)
(4º D)