quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

A Cadela do Calatrava



A Cadela do Calatrava

«A praia de Faro é parte da grande península que faz fronteira com a Ria Formosa, um ilhéu que está ligado ao continente por uma pequena ponte de madeira. 

Pois bem, correr e brincar na praia era o passatempo preferido de uma cadela, conhecida por ser a cadela do Calatrava. O Calatrava era um pescador que, como tantos outros na ilha, fazia do mar a sua profissão e o seu sustento.

Em alturas de trabalho mais aturado, quando as barcas, bateiras e caíques se aprontavam para o mar, quando os cabos, as redes, as boias e as armações ocupavam os seus lugares ou se remendavam por causa do uso fustigador da água salgada, a cadela do Calatrava ADORAVA ainda mais a praia. Adorava fazer parte daquele corrupio todo! Pulava, saltava, corria por todo o areal sem parar um segundo!

O Calatrava não tinha outra alternativa: tinha de lhe pôr uma coleira. Era a única maneira de os pescadores trabalharem à vontade. 

E era sempre assim! Para trabalhar o Calatrava colocava a coleira no pescoço da cadela sem a prender a nada, apenas a coleira no pescoço.
A cadela do Calatrava não saía mais do sítio. Latia, latia, latia. Latia, latia, latia, mas não saía do sítio.» L.S.

 A história da cadela do Calatrava inspirou a sessão de hoje!
 «- Porque é que a cadela não saía do sítio?» (Diogo B.)

Várias sugestões de resposta a esta pergunta surgiram: «Porque gosta de estar com a coleira, e se ficar irrequieta, o dono tira-lha.» (Daniel) ou «Porque sente respeito pelo dono e sabe que deve ficar ali.» (Diogo) ou ainda «Porque se sente presa, apesar de não estar.» (Catarina)

Mas será que há diferenças entre ser/estar preso e sentir-se preso? Ou entre ser livre e sentir-se livre?
Sim, inequivocamente sim!
«Sentir-se é uma mentira; ser é a verdade!» (Daniel)
«Sentir-se é a verdade; ser é a mentira:» (Diogo)

Hummm.... E agora?...

O Daniel explica: - a cadela sentia-se presa mas na verdade não estava!
E o Diogo também explica: - se nós pensamos que estamos presos, não fazemos coisas. Ou fazemos coisas de uma maneira.

(...)

Mas será que nós, humanos, também temos destas coleiras que nos prendem sem prender? 
Avançaram-se inúmeros exemplos que confirmam que sim:
- a sala de aula (Daniel);
- a prisão (se bem que é um pouco diferente: da sala de aula podemos  - conseguimos - sair, mas não o fazemos porque sabemos que não devemos, mas na prisão não é assim tão fácil conseguir sair...);
- Casa;
- Deveres, com os pais, por exemplo (Catarina e Bruna);
- Castigos;
- Trabalho;
- Emprego;
«- O meu pai está desempregado.»
Também podemos estar presos ao desemprego?
«- Sim.»
- Desemprego;
- Dor (Diogo B.);
- Vício («- Fumar, por exemplo.», Adonai ou «- Jogar computador.» Daniel)

«- É quando tu gostas tanto que não deixas de jogar.» (Adonai)
Afinal, parece que é mesmo muito possível gostar de estar preso!    ?...



 Grata a todos pela sessão e parabéns pela qualidade das intervenções!
(4º D)