O homem de nenhum modo se distingue do animal só pelo pensamento. Pelo contrário, o seu ser total é que o distingue do animal. Sem dúvida, aquele que não pensa não é homem algum; não é porque o pensamento seja a causa do ser humano, mas unicamente porque é uma consequência e uma prioridade necessária do mesmo ser humano.
Por conseguinte, não precisamos aqui de sair do domínio da sensibilidade para reconhecer no homem um ser superior aos animais. O homem não é um ser particular como o animal, mas um ser universal, por conseguinte, não é um ser limitado e cativo, mas um ser ilimitado e livre; com efeito, a universalidade, a ilimitação e a liberdade são inseparáveis. E esta liberdade não reside numa faculdade particular, na vontade, da mesma maneira que esta universalidade não se situa numa disposição particular da faculdade de pensar, na razão – esta liberdade, esta universalidade estende-se ao seu ser total. (…)
A arte, a religião, a filosofia ou a ciência são apenas as manifestações ou revelações do ser humano verdadeiro. Homem perfeito e verdadeiro é apenas quem possui o sentido estético ou artístico, religioso ou moral, filosófico ou científico - o homem em geral somente é aquele que nada de essencialmente humano exclui de si mesmo. Homo sum, humani nihil a me alienum puto – esta frase, tomada na sua significação mais universal e mais elevada, é a divisa do novo filósofo.
(…) O princípio supremo e último da filosofia é, pois, a unidade do homem com o homem. Todas as relações fundamentais – os princípios das diferentes ciências- são unicamente espécies e modos diferentes desta unidade.
Ludwig Feuerbach, Princípios da Filosofia do Futuro e Outros Escritos, Edições 70, Lisboa, pp.96-99.